História do Processo de Individualização da Criança: Reflexos na OdontologiaProfa. Dra. Andiara De Rossi | |
A visão e o interesse que se tem pela criança hoje em dia, bem como o relacionamento entre o adulto e a criança, sofreram importantes mudanças ao longo do tempo. A individualização da criança é importante nos direcionamentos de atitudes em Odontopediatria. O conhecimento da atenção à criança a partir de uma perspectiva histórica permite fornece elementos para que se busque a compreensão de seu sentido e significado dentro de um contexto mais amplo. Este artigo tem como objetivo apresentar as diferentes concepções da criança e de sua educação dentro da família em diferentes contextos sócio-histórico-culturais, que culminaram com a criação da especialidade de Odontopediatria.
Historicamente, a Odontologia se direcionou para o atendimento de crianças a partir dos 6 anos de idade, deixando em planos secundários a atenção voltada para a gestante e para o bebê (paciente na faixa de zero a três anos de idade). Este fato ocorreu principalmente devido a problemas referentes ao acúmulo de doença, ao estabelecimento de prioridades e à deficiência de recursos humanos e financeiros na área da saúde bucal. Ainda hoje, um fator que limita a atenção odontológica aos bebês é a influência cultural da população. Entretanto, diante dos novos conhecimentos sobre psicologia infantil e sobre a importância da manutenção dos dentes decíduos no arco, até sua esfoliação, os conceitos sobre o atendimento Odontopediátrico sofreram profundas e importantes transformações. Durante séculos predominou na Europa ocidental uma consciência “naturalista” da vida e da passagem do tempo.
Na Odontologia em 1897 houve primeiro registro de serviços profissionais dedicados à criança, e em 1925, o primeiro livro sobre Odontologia Infantil, ambos nos EUA. No Brasil, em 1923, Pereira lança o livro Educação Dentária da Criança, enfatizando que “é necessário começar a profilaxia de cárie no ventre materno, com formação de órgãos dentários sadios e bem calcificados”, já preconizando a necessidade de limpeza dos dentes logo que irrompessem. O primeiro relato de atenção Odontológica voltada para bebês data de 1986, com a criação da Clínica de Bebês da Universidade Estadual de Londrina (UEL), que oferece medidas educativas direcionadas aos pais, além de tratamento Odontológico direcionado especificamente aos bebês. O programa, que dura 15 anos, mostra seus resultados positivos a favor de uma Odontologia preventiva, e transfere esta prática ao setor público, Universidades e profissionais que exercem atividades em clínica particular. A partir de então, surgiram diversos relatos na literatura sobre experiências com bebês, como o de Goepferd, sobre um trabalho desenvolvido durante 18 meses, que envolveu a participação de 180 bebês em um Programa de Saúde Bucal na Universidade de IOWA. Desta experiência, concluiu-se que o contato com os pais e crianças, por meio da demonstração de técnicas de higiene bucal e avaliação individual da situação familiar foram imperativos para a obtenção de ótimos resultados em saúde bucal.
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